As engrenagens ocultas da Sanepar | Por que o PCCR se tornou uma “caixa-preta”?

Adft (Copy)

A Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar vive um paradoxo. Enquanto apresenta lucros e eficiência técnica, em seus corredores e nas estações, trabalhadores e trabalhadoras pedem socorro: o desmonte das carreiras.

Recentemente, o vazamento de áudios que sugerem pedidos de “contribuições” oriundas de verbas dos trabalhadores (como o PPR) acendeu um alerta.

Surge então a pergunta inevitável:

A injustiça denunciada pelo Sindael há anos no Plano de Cargos Carreiras e Remuneração seria um erro de gestão ou uma ferramenta estratégica para viabilizar esquemas políticos?

Vamos a uma analise dos fatos e o que coloca uma “pulga” atrás da orelha!

  1. O PCCR como filtro de “lealdade”

Historicamente, planos de carreira em estatais servem para proteger os trabalhadores de interferências políticas. No entanto, as denúncias acumuladas em 2024 e 2025 apontam que o PCCR da Sanepar se tornou extremamente subjetivo.

  • A Suspeita: Ao manter critérios vagos e avaliações comportamentais sem feedback claro, a Diretoria detém o poder de decidir quem progride e quem estagna. Isso cria um “funil de lealdade”: apenas aqueles alinhados aos interesses da gestão — ou indicados por forças externas — conseguiriam os degraus salariais (STEPS) mais altos.
  • O Favorecimento: Se o mérito é substituído pela indicação, o cargo deixa de ser um direito do trabalhador e passa a ser um “favor” da chefia.
  1. A suspeita de “rachadinhas” no PPR:

O ponto mais sensível dos áudios vazados reside na suposta exigência de repasse de partes do Programa de Participação nos Resultados. Para que um suposto esquema desse tipo prospere em uma empresa do tamanho da Sanepar, ele precisaria de uma estrutura de suporte:

  • O “pedágio” da indicação: Funcionários em cargos de confiança ou promovidos sob critérios nebulosos do PCCR poderiam se sentir compelidos a “devolver” parte de seus bônus como forma de agradecimento ou para garantir a permanência no cargo.
  • O volume financeiro: Como o PPR é uma verba paga em montantes significativos, ele se torna o alvo ideal para arrecadação de campanha. Se um gestor controla quem recebe as melhores notas no PCCR, ele controla, indiretamente, quem terá o maior PPR para ser “taxado”.
  1. Gestão por medo e o expurgo técnico

A denúncia do Sindael de que a Sanepar estaria utilizando o PCCR como “justificativa para demissões” (a regra das três notas negativas) revela uma faceta ainda mais obscura.

  • Silenciamento: Um trabalhador que presencia irregularidades, mas sabe que sua nota no PCCR depende exclusivamente do humor de um gerente indicado politicamente, tende ao silêncio.
  • Substituição: A ferramenta de avaliação poderia estar sendo usada para “limpar” a companhia de trabalhadores de carreira éticos, abrindo vagas para novos apadrinhados que aceitem participar das supostas engrenagens de arrecadação.
  1. Conexões de bastidores:

Embora a empresa se defenda sob o manto da “gestão profissional”, o que se suspeita é a existência de um governo paralelo dentro da estatal.

  • Gerências regionalizadas: Relatos indicam que certas gerências operam como feudos políticos. Nesses locais, o PCCR não seria um plano de crescimento, mas uma moeda de troca.
  • Blindagem: Gestores que estariam supostamente envolvidos em assédio moral ou condutas humilhantes permanecem intocáveis, o que levanta a hipótese de que sua “utilidade” para o sistema de arrecadação supera sua competência técnica ou ética.

As evidências colhidas até agora — áudios vazados e inúmeras reportagens — sugerem que a crise no PCCR não é orgânica. Há indícios de que o plano de carreira foi desfigurado para servir de cobertura a um esquema de favorecimento e possível desvio de verbas para fins eleitorais.

Se a Sanepar deseja manter sua credibilidade perante a sociedade, é urgente que:

  1. Os critérios do PCCR sejam auditados por entidades externas.
  2. O Ministério Público investigue o cruzamento entre promoções internas e doações/repasses ocultos.
  3. A “caixa-preta” das avaliações seja aberta para que o mérito volte a ser o único guia da companhia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *